No dia 1 de
outubro de 2001,
exatamente 10 anos atrás, entrava no ar o primeiro capitulo daquela que se tornaria uma das maiores obras da
teledramaturgia brasileira, O Clone. Escrita por Glória Perez, a trama trazia temas
polêmicos como clonagem, drogas e cultura muçulmana, no momento em que a religião era vista
com desconfiança, por causa do incidente do 11 de
setembro.
O Clone vinha com a função de traçar um balanço do novo século. Com a virada do milênio, o que mudou e o que continua nas relações humanas. O objeto utilizado pela autora foi a clonagem. Como seria essa nova forma de ser humano, que é diferente em tudo. Nasce diferente, não tem uma função delimitada na sociedade. Não tem pai, não tem mãe. Todas as dúvidas e discussões sobre o assunto foram colocadas em pauta no folhetim e no fogo cruzado da narrativa temos a nossa heroína, Jade.
Jade se apaixona por Lucas, mas não consegue viver esse amor. Por causa disso alimenta, sua vida inteira a imaginação de como tudo seria diferente se tivesse dado certo. Ela
fantasia um Lucas ideal, um
príncipe encantado que vai chegar num cavalo branco. Vinte anos depois os dois se reencontram e o seu
príncipe começa a mostrar os defeitos, tornando-se aos olhos da amada, nada mais que um sapo. frustrada com a possibilidade do Lucas que ela amava ter existido apenas em sua mente, surge o
Léo.
Léo é um clone do Lucas, criado pelo
Albieri para suprir duas necessidades do cientistas, a de eternizar as pessoas que amou, impedindo que elas morram(Neste caso, o irmão
gêmeo do Lucas, Diogo, que era afilhado de
Albieri, morreu no inicio da novela) e a de evocar sua vaidade, sendo o primeiro a criar a vida humana em um laboratório.
Jade conhece
Léo e vê no clone do seu amado a possibilidade de viver tudo aquilo que não viveu com o original. Aos poucos a cópia vai mostrando ser aquele Lucas que tanto Jade idealizou, um homem forte, capaz de largar tudo por ela. E é aí que entra o grande conflito da personagem. Como dizia
Zoraide "O Passado e o Presente vai se cruzar diante de você na figura de um homem e você vai ter que escolher se anda pra frente ou anda pra trás". A muçulmana fica indecisa entre o ideal e o real, mas no ultimo capitulo ela opta por ficar com o original. Na verdade, quem decide é o
Léo, que entre ela e o A
lbieri, prefere seguir o
cientista, que lhe criou.
Entre idas e vindas, O Clone marcou a história da teledramaturgia na Rede Globo e ganhou recentemente uma versão hispânica intitulada de "El Clon". A novela conseguiu passar por temas fortes e densos com uma leveza e uma poesia vistos em poucas obras. Falar do povo muçulmano em uma época onde essas pessoas estavam sendo vistas como lunáticos assassinos foi um tiro no escuro. Quando aconteceu o incidente do 11 de setembro, a novela estava prestes a ir ao ar. Não havia mais nada o que se fazer. Mas no final deu tudo certo e a cultura foi super bem aceita pelo público.
Tratar, de forma pioneira, de um tema tão
polêmico como as drogas no horário nobre também foi um dos pontos importante de O Clone. O núcleo dos drogados foi
sutilmente bem trabalhado e explorado em todas as vertentes. Foi discutido como a coisa evolui de um simples baseado para drogas mais pesadas, como tem pessoas que conseguem sair no inicio(
Cecéu) e outras não, drogas na
gravidez, envolvimento com traficantes e recuperação. Débora
Falabella deu um
show de interpretação no papel da Mel e fez o país chorar, torcer e se envolver com um marketing social muito importante para a campanha anti-drogas.
Outra que roubou a cena na novela foi a
Solange Couto e sua esbaforida "Dona Jura". A dona do
boteco em São
Cristovão não tinha papas na língua e sempre falava o que tinha de falar, seja quem fosse a pessoa. Seu bar reunia todo o núcleo
cômico do folhetim e sempre podia contar com uma
atração especial, como Ana Maria Braga,
Pelé, Zeca
Pagodinho e etc. O personagem foi um
divisor de águas na carreira da
atriz e causou um
boom em todo o país. Não tinha esse que não soltasse um "
Né brinquedo, não,
hein?".
O Clone cumpriu todas as suas funções. Foi uma novela que entreteu, informou e analisou o mundo de forma antropológica, ética e filosófica. Trouxe em debate o humano vivendo coisas que ele nunca viveu. Encarar o novo com sentimentos antigos no coração. Esse confronto com a tecnologia também foi abordado em Barriga de Aluguel, coma inseminação artificial, De Corpo e Alma, com o transplante de órgãos, e em Explode Coração, com amores surgidos pela internet. Glória Perez mais uma vez emocionou e fez o telespectador refletir. Parabéns O Clone, pelos seus 10 anos de estréia.