sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Carolina Ferraz: A Diva das novas versões de Janete Clair


 O Astro marcou a estréia do horário das onze na programação da Rede Globo, em homenagem aos 60 anos da teledramaturgia brasileira. Unidos à essa comemoração estavam as reprises de O Clone(Glória Perez) e Mulheres de Areia(Ivani Ribeiro). A primeira versão foi escrita por Janete Clair, dirigida por Daniel Filho e exibida em 1977. Já a Segunda versão está sendo escrita por Alcides Nogueira e dirigida por Mauro Mendonça Filho. Na primeira exibição a protagonista Amanda era interpretada pela gloriosa Dina Sfat, enquanto quem está dando vida à "versão anos 2000" é a não menos talentosa, Carolina Ferraz.

A coincidência é que não é a primeira vez que a Carolina dá vida a uma mocinha de um remake da Janete Clair. Quem não lembra da Lucinha, de Pecado Capital? A mocinha na primeira versão, exibida em 1976 para cobrir o buraco deixado pela então censurada Roque Santeiro(Regravada e exibida apenas quase 10 anos depois), desta vez interpretada pela Betty Faria. No remake adaptado por Glória Perez em 1998, Carolina era a suburbana Lucinha. O mais interessante é que os dois remakes foram escritos por autores diferentes, A Glória e o Alcides, mas mesmo assim, a Carolina se mantém no posto de protagonista dos remakes da maga dos folhetins, Janete Clair.

Janete era conhecida por ser um gênio nunca visto antes, nem depois, no ato da construção narrativa "telenovelesca". Suas tramas eram de uma poesia e ousadia não visto nas épocas de hoje. Em Pecado Capital, o protagonista Carlão morria no ultimo capitulo. Hoje em dia é quase impossível cogitar a possibilidade de um mocinho morrer. Foi isso que levou muitos telespectadores a terem dúvida se a Glória manteria o final triste da trama original no remake. Mas o final triste foi garantido.


Mesma pergunta rodeia a reta final de O Astro. Na primeira versão, Amanda e Herculano não terminam juntos, pois ela percebe que só uma coisa que ele ame mais que tudo nessa vida, o poder. Vamos ver se os mocinhos vão manter o final original e preservar a beleza poética da trama. Ou se teremos mais um monótono e óbvio final feliz.

sábado, 1 de outubro de 2011

O Clone completa 10 anos de sua estréia

No dia 1 de outubro de 2001, exatamente 10 anos atrás, entrava no ar o primeiro capitulo daquela que se tornaria uma das maiores obras da teledramaturgia brasileira, O Clone. Escrita por Glória Perez, a trama trazia temas polêmicos como clonagem, drogas e cultura muçulmana, no momento em que a religião era vista com desconfiança, por causa do incidente do 11 de setembro.



O Clone vinha com a função de traçar um balanço do novo século. Com a virada do milênio, o que mudou e o que continua nas relações humanas. O objeto utilizado pela autora foi a clonagem. Como seria essa nova forma de ser humano, que é diferente em tudo. Nasce diferente, não tem uma função delimitada na sociedade. Não tem pai, não tem mãe. Todas as dúvidas e discussões sobre o assunto foram colocadas em pauta no folhetim e no fogo cruzado da narrativa temos a nossa heroína, Jade.


Jade se apaixona por Lucas, mas não consegue viver esse amor. Por causa disso alimenta, sua vida inteira a imaginação de como tudo seria diferente se tivesse dado certo. Ela fantasia um Lucas ideal, um príncipe encantado que vai chegar num cavalo branco. Vinte anos depois os dois se reencontram e o seu príncipe começa a mostrar os defeitos, tornando-se aos olhos da amada, nada mais que um sapo. frustrada com a possibilidade do Lucas que ela amava ter existido apenas em sua mente, surge o Léo. Léo é um clone do Lucas, criado pelo Albieri para suprir duas necessidades do cientistas, a de eternizar as pessoas que amou, impedindo que elas morram(Neste caso, o irmão gêmeo do Lucas, Diogo, que era afilhado de Albieri, morreu no inicio da novela) e a de evocar sua vaidade, sendo o primeiro a criar a vida humana em um laboratório.

Jade conhece Léo e vê no clone do seu amado a possibilidade de viver tudo aquilo que não viveu com o original. Aos poucos a cópia vai mostrando ser aquele Lucas que tanto Jade idealizou, um homem forte, capaz de largar tudo por ela. E é aí que entra o grande conflito da personagem. Como dizia Zoraide "O Passado e o Presente vai se cruzar diante de você na figura de um homem e você vai ter que escolher se anda pra frente ou anda pra trás". A muçulmana fica indecisa entre o ideal e o real, mas no ultimo capitulo ela opta por ficar com o original. Na verdade, quem decide é o Léo, que entre ela e o Albieri, prefere seguir o cientista, que lhe criou.



Entre idas e vindas, O Clone marcou a história da teledramaturgia na Rede Globo e ganhou recentemente uma versão hispânica intitulada de "El Clon". A novela conseguiu passar por temas fortes e densos com uma leveza e uma poesia vistos em poucas obras. Falar do povo muçulmano em uma época onde essas pessoas estavam sendo vistas como lunáticos assassinos foi um tiro no escuro. Quando aconteceu o incidente do 11 de setembro, a novela estava prestes a ir ao ar. Não havia mais nada o que se fazer. Mas no final deu tudo certo e a cultura foi super bem aceita pelo público.



Tratar, de forma pioneira, de um tema tão polêmico como as drogas no horário nobre também foi um dos pontos importante de O Clone. O núcleo dos drogados foi sutilmente bem trabalhado e explorado em todas as vertentes. Foi discutido como a coisa evolui de um simples baseado para drogas mais pesadas, como tem pessoas que conseguem sair no inicio(Cecéu) e outras não, drogas na gravidez, envolvimento com traficantes e recuperação. Débora Falabella deu um show de interpretação no papel da Mel e fez o país chorar, torcer e se envolver com um marketing social muito importante para a campanha anti-drogas.

Outra que roubou a cena na novela foi a Solange Couto e sua esbaforida "Dona Jura". A dona do boteco em São Cristovão não tinha papas na língua e sempre falava o que tinha de falar, seja quem fosse a pessoa. Seu bar reunia todo o núcleo cômico do folhetim e sempre podia contar com uma atração especial, como Ana Maria Braga, Pelé, Zeca Pagodinho e etc. O personagem foi um divisor de águas na carreira da atriz e causou um boom em todo o país. Não tinha esse que não soltasse um " brinquedo, não, hein?".



O Clone cumpriu todas as suas funções. Foi uma novela que entreteu, informou e analisou o mundo de forma antropológica, ética e filosófica. Trouxe em debate o humano vivendo coisas que ele nunca viveu. Encarar o novo com sentimentos antigos no coração. Esse confronto com a tecnologia também foi abordado em Barriga de Aluguel, coma inseminação artificial, De Corpo e Alma, com o transplante de órgãos, e em Explode Coração, com amores surgidos pela internet. Glória Perez mais uma vez emocionou e fez o telespectador refletir. Parabéns O Clone, pelos seus 10 anos de estréia.